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29 de janeiro – 4º domingo comum

“Vieste para nos perder?”

Jesus chegou a Cafarnaum e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas. Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro, que começou a gritar: «Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus». Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem» (…) (Marcos)

 

         Depois de nos ter narrado o chamamento dos primeiros discípulos, Marcos vai agora dizer-nos como era um “dia normal” da vida de Jesus. Portanto, neste dia está concentrada, por assim dizer, toda a vida pública de Jesus; é uma narração carregada de teologia, de reflexão de Marcos sobre o mistério da Incarnação. É importante estarmos atentos a isto, porque os relatos de Marcos são tão vivos, tão coloridos, tão “naturais”, que facilmente esquecemos esta longa reflexão que encerram sobre o Mistério de Jesus de Nazaré. E o texto é, de facto, de tal modo denso, que apenas vamos comentar a intervenção do “espírito impuro” na oração na sinagoga de Cafarnaum (o primeiro ato de Jesus neste dia).

         “Espírito impuro” é uma designação normal na Bíblia para indicar quem recusa Deus. Digamos, refere-se ao demónio. Mas isso não implica que a gente veja aqui logo uma espécie de homem vestido de vermelho, com pés de cabra, chifres e rabo em tridente! Espírito impuro é, antes de mais, o nosso espírito quando se recusa a acolher Deus.

         Vejamos a cena: Marcos introduz Jesus em Cafarnaum como um desconhecido que ali chega num dia da semana também desconhecido. Tudo está preparado para que a passagem de Jesus por Cafarnum seja inócua. Mesmo a ida à Sinagoga no primeiro sábado que ali passa, nada tem de especial. Como todo o bom judeu, Jesus vai à sinagoga participar na oração comunitária. Aí – usando de um costume dos judeus –, depois de lidas as leituras da Bíblia, Jesus pede autorização ao chefe da sinagoga e começa a comentá-las. Também não sabemos quais eram as leituras ou o que Jesus disse sobre elas. Tudo continua inócuo, desconhecido. Mas, de repente, percebe-se que alguma coisa mexeu: Jesus fala com tal profundidade, que toda a gente fica espantada com aquele desconhecido. Ainda assim, tudo se resumiria a esse espanto se não estivesse lá um homem com um espírito impuro; isto é, se não estivesse lá um homem que percebe que aquela doutrina e autoridade de Jesus são perigosas!; que a presença de Jesus entre eles os vai “perder”; que aquele ensinamento de Jesus, se for seguido pelas pessoas de Cafarnaum, vai mudar todas as relações sociais, todas as relações de poder, toda a religiosidade do povo, todo o modo de ver Deus, o homem e o mundo. E então reage contra Jesus: “que tens tu a ver connosco?!”, como quem diz: “põe-te no teu lugar”. E para que Jesus perceba bem, indica-lhe o caminho donde veio, “de Nazaré”, como quem diz: “vai lá pregar para a tua terra”. Curiosamente, este homem reage como quem tem algum tipo de interesse em que tudo se mantenha como está, mas até esse interesse desconhecemos. Percebemos apenas que é um sujeito superinteligente, capaz de perceber as coisas a longo prazo, e capaz de reagir cara a cara, com frontalidade. É um espírito de tal modo lúcido, que ataca Jesus no cerne da questão: “eu sei quem tu és: o Santo de Deus”, como quem: “eu sei que tudo o que dizes é verdade; que tudo o que dizes vem de Deus; que assim é que as coisas deveriam ser, etc.; mas a verdade é que não são. E olha, as coisas estão bem tal como estão e não queremos que sejam mudadas”.

O espírito mais lúcido daquela assembleia de Cafarnaum era impuro, não por “magia diabólica”, nem por falta de inteligência, mas por uma decisão de recusar Jesus, apesar de reconhecer a Sua união de vida e ensino com Deus.

         O homem com o espírito impuro representa todos os que recusaram Jesus, em razão dos seus interesses instalados e não confessados. Os homens possuídos de um “espírito impuro” somos nós, hoje ainda, que, embora sabendo que Jesus é “o Santo de Deus”, O recusamos, porque aceitá-Lo significaria mudar a nossa vida. Somos nós, quando desconfiamos que Ele “veio para nos perder”! Mas, felizmente, Jesus não veio para nos perder, mas para nos salvar: pela Sua morte e ressurreição vence o nosso espírito impuro e devolve-nos a vida em Deus.

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