8 de abril – domingo de Páscoa
“Não está aqui”!
Depois de passar o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para irem embalsamar Jesus. E no primeiro dia da semana, partindo muito cedo, chegaram ao sepulcro ao nascer do sol. Diziam umas às outras: «Quem nos irá revolver a pedra da entrada do sepulcro?» Mas, olhando, viram que a pedra já fora revolvida; e era muito grande. Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado do lado direito, vestido com uma túnica branca, e ficaram assustadas. Mas ele disse-lhes: «Não vos assusteis. Procurais a Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou: não está aqui. Vede o lugar onde O tinham depositado. Agora ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para a Galileia. Lá O vereis, como vos disse». (Marcos)
Das muitas leituras deste domingo, tomamos aqui o Evangelho de Marcos, lido na Solene Vigília Pascal.
Marcos, no seu livro original, não nos narrava as Aparições de Jesus, terminando o seu evangelho com o texto que lemos (ao qual acrescenta um comentário para dizer que as mulheres ficaram cheias de medo com a visão daquele jovem e não disseram nada a ninguém). Mais tarde foi acrescentado a este evangelho um resumo das Aparições referidas nos outros evangelhos. Mas, ao mesmo tempo que originalmente não falava das Aparições, Marcos dá-as como conhecidas de todos e acontecidas na Galileia: “Ele (o Ressuscitado) vai adiante de vós para a Galileia. Lá o vereis”.
Percebemos que Pedro e os outros discípulos, enterrado Jesus, enterrado o sonho do reino de Deus, voltam para a Galileia, a terra onde ganhavam o pão com o suor de cada dia antes daquela aventura ter começado. Retornaram à pesca de peixes, onde os vai encontrar o Ressuscitado (cfr. Jo 21, 1-14). João, aliás, faz notar que aquela aparição no Lago de Tiberíades, quando pescavam, “foi a terceira aparição depois de ter ressuscitado dos mortos” (cfr. Jo 21,14). Ou seja, decorreu algum tempo não só entre as Aparições, mas também desde a primeira Aparição até ao momento dos discípulos abandonarem de vez a pesca de peixes para se dedicarem exclusivamente à pesca de homens e mulheres para o reino de Deus.
Regressaram à Galileia, mas o Ressuscitado já ia à frente deles, já lá os aguardava. É na Galileia que se inicia a fé na Ressurreição, com as aparições de Jesus de Nazaré. Mas o que Marcos mais vinca é que se o Ressuscitado foi para a Galileia, à frente dos discípulos, então não está mais em Jerusalém, não está mais no túmulo! Voltou novamente à vida quotidiana do povo, voltou às vilas e aldeias onde a vida acontece. Decididamente, para Marcos o grande efeito da Ressurreição de Jesus é esse mesmo: Jesus encontra-se agora na vida quotidiana das pessoas, na vida quotidiana dos seus discípulos. Jesus está na História, e não num templo (cujo véu se rasgou para sempre!) nem num túmulo! Em Jerusalém, o que as mulheres encontram naquela manhã de domingo é apenas um túmulo vazio. E um jovem que lhes diz isso mesmo: “não está aqui!; está na Galileia!”.
Mais, Jesus Ressuscitado descobre-se na História, mas não igualmente em qualquer história! Jesus ressuscitado descobre-se na História dos últimos, dos arredados, dos marginalizados, dos ostracizados. De facto, Marcos acabara de nos dizer que estas mesmas três mulheres contemplavam de longe a cruz de Jesus. No Calvário, observavam de longe, impotentes perante aquela brutalidade. Mas logo depois que a brutalidade dos soldados e a letra da Lei lhes desimpediram o caminho, são as primeiras a aproximarem-se, para embalsamar o corpo de Jesus: arrancam ainda de noite, e já estão lá ao nascer do sol. Eram as “últimas”, mas foram as “primeiras” a saber que Jesus tinha ressuscitado.
Iam arrojadas, decididas. Mas havia ainda um obstáculo a vencer, um obstáculo que não lhes vinha de fora, mas agora da sua própria fragilidade: como iriam arredar aquela grande pedra que lhes barrava o caminho?! E descobrem, afinal, que é o próprio Ressuscitado Quem remove todas as pedras que obstaculizam a história dos pequenos, dos humildes, dos frágeis, mesmo que tais pedras aparentem ser “muito grandes”… Com Jesus Ressuscitado, quem poderá deter os “últimos”?!
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