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3 de maio – 5º domingo da páscoa

O povo do amor


Jesus disse aos seus discípulos: «Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê ainda mais fruto. Vós já estais limpos, por causa da palavra que vos anunciei. Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer. Se alguém não permanece em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará. Esses ramos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem. Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido. A glória de meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos». (João)


No evangelho de João o relato mais longo de todos é o da última Ceia de Jesus com os discípulos. Ocupa 5 capítulos (13 – 17)! Esta extensão parece dever-se, desde logo, a estarem aqui dois relatos paralelos da última Ceia, que o redator final deste evangelho (alguma comunidade cristã ligada a S. João) simplesmente justapôs um a seguir ao outro. Mas o facto do próprio João ter redigido dois relatos, e ambos já de si longos, mostra também quanto essa Ceia o marcou pessoalmente. Para João, a última Ceia de Jesus é um momento de clímax, onde o céu e a terra se cruzam nos gestos (lava-pés; bênçãos), nas palavras (oração de Jesus) e nas emoções (pré-anúncio da morte de Jesus). Por último, João vê na última Ceia o ato inaugural do novo Povo de Deus, reunido à volta da Eucaristia. Daí os longos ensinamentos de Jesus aos discípulos, a longa oração por eles, a lei do amor e as promessas da vinda do Espírito Santo e de uma morada definitiva junto de Deus.

Reformulando, João vê na última Ceia de Jesus a constituição de um novo Povo de Deus, através de uma nova Lei (a Lei do Amor) e de uma nova Promessa (a vinda do Espírito Santo). Para fazer esta catequese, João fez dois relatos diferentes mas muito paralelos. O evangelho da missa de hoje é o início do segundo desses relatos. E João começa exatamente por evocar a imagem da vinha, que fora largamente tratada pelo profeta Isaías como uma imagem do povo do antigo Testamento. Por isso, este texto indica-nos logo, antes de mais, que os discípulos (isto é, a Igreja, nós, os crentes) são o novo Povo de Deus, a vinha de que Deus cuida como dissera Isaías: “O meu amigo possuía uma vinha. Cavou-a, tirou-lhe as pedras, e plantou-a de bacelo escolhido”.(Is. 5, 2).

Só que Jesus faz uma alteração a esta imagem: verdadeiramente a vinha de Deus não é mais o povo, mas o próprio Jesus de Nazaré: eu sou a verdadeira vide. Ora, se ele é a verdadeira vide, todas as outras são falsas, são ilusão, não merecem atenção nem trabalho. Ele, Jesus, esgota totalmente o cuidado de agricultor, o trabalho do Pai. E, por isso, toda a condição de alguém dar fruto, é estar enxertado em Cristo. Ninguém dá fruto por si mesmo, mas apenas enquanto participa de toda a seiva que é Cristo: “sem mim, nada podeis fazer”. Mas quando alguém participa dessa seiva, não só dá fruto, como o seu fruto é de boa qualidade, muito! Então, o novo povo de Deus (os cristãos) é o conjunto das pessoas que vivem a sua fé e a sua vida enxertados em Cristo e que dão frutos com a qualidade do próprio Jesus.

Mas além de identificar os cristãos como o novo Povo de Deus da nova aliança em comunhão com Jesus, este texto serve também como uma espécie de prólogo ao mandamento novo do amor, que aparece logo a seguir: “é este o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” (Jo 15, 12) – mandamento este que já tinha sido dado no primeiro relato da Ceia: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34). Isto significa que apesar do novo Povo de Deus só poder dar frutos em total união com Cristo, os frutos esperados não são meras atitudes espirituais ou comportamentos religiosos, não são, para citar o mesmo João na Segunda Leitura, só um amor por palavras e por língua, mas são obras de construção da comunidade: justiça, verdade, amor, misericórdia, perdão, santidade!
Por isso, embora pareça contrassenso (tipo o que é que começou primeiro, o ovo ou a galinha?), só nos tornaremos verdadeiramente discípulos de Jesus se dermos esses frutos. Isto porque ser discípulo não é um “estado”, mas um “tornar-se”: sempre unido a Cristo e sempre ao serviço dos irmãos.

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