Notícias

24 de maio – domingo do Pentecostes

Que medo, afinal, era esse?


Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem.

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos». (João)


A referência no evangelho de João ao “medo” e a leitura simultânea deste relato do livro dos Atos dos Apóstolos pode criar em nós a ideia dos discípulos fechados numa sala, com medo de alguma perseguição ressabida dos judeus, ainda 50 dias depois daquela páscoa em que tinham matado Jesus, tanto mais que ambos os textos dizem que os apóstolos estavam reunidos num mesmo lugar ou casa.

Mas não terá sido assim. Desde logo, João refere esse medo no dia da ressurreição e não 50 dias depois. E medo, medo a sério, tiveram os discípulos no próprio dia da prisão de Jesus! E dispersaram. Os evangelhos, nomeadamente Mateus e João, situam as aparições do Ressuscitado na Galileia, quando os discípulos voltaram à sua faina quotidiana e pescam no lago de Tiberíades… Não há aqui espaço para um lugar físico comum…

Então, que medo é este e que lugar é esse onde eles estão todos reunidos?
A partir da catequese da aparição aos discípulos de Emaús, enunciada por Lucas e referida por Marcos, percebemos que os discípulos (que se tinham dispersado) acabaram por se juntar espiritualmente (e também fisicamente nalgumas circunstâncias) através de três coisas partilhadas por todos eles: a releitura ardente das Escrituras à luz da sua fé na ressurreição de Jesus; a celebração comum em memória da última Ceia; a confirmação entre eles próprios da sua fé através do testemunho credível daqueles a quem o Ressuscitado se revelara vivo. É este o mesmo lugar, não físico, mas espiritual, em que todos se encontram reunidos: um mesmo lugar de compreensão das Escrituras, de celebração da fé e de vinculação a Jesus de Nazaré.

E porque é que têm medo dos judeus? Em boa verdade não têm medo dos judeus; do que eles têm medo é de se apresentarem aos judeus. Fecham as portas (é uma imagem!) não para evitar que os judeus entrem, mas para eles próprios não saírem! Do que eles têm medo é de se confrontarem com os judeus, não enquanto o Pedro ou o André que andou com o tal Jesus que tinha sido condenado à morte, mas enquanto portadores de uma doutrina não credível para a cultura dominante. Têm medo de serem tomados por tolinhos, de serem objeto da chacota dos colegas de trabalho, eventualmente de alguma perseguição pessoal. É como nós, hoje, que não falamos das coisas da fé no trabalho, nem no café, nem sequer em casa…, porque a cultura dominante vai noutro sentido, porque achamos que se calhar não cai bem, que se calhar as pessoas não estão disponíveis para nos ouvir, ou até se ficam a rir de nós, ou, quem sabe, até nos vão arranjar algum problema à hora de sermos avaliados… É esse medo! Igualzinho! Entre eles, no tal lugar espiritual em que estão todos reunidos, tudo bem; agora, anunciar para fora o Crucificado como o único Nome sob o qual podemos esperar a salvação…, não conseguem, porque isso para a cultura judaica é escândalo (S. Paulo), e ninguém os vai levar a sério.

E, de repente, deram o salto! Abriram as portas e saíram para a rua! E anunciaram isso mesmo: aquele crucificado é a única pessoa sob a qual temos a salvação de Deus! É nesse “salto missionário”, ardente, interior, vivo, que se percebe a ação do Espírito Santo. [Já agora, não deixa de ser interessante refletir isto no contexto do Plano Pastoral Diocesano, que nos chama a ser discípulos… missionários!].

Partilhar:

Deixe uma resposta

Cáritas

A Cáritas Portuguesa é um serviço da Conferência Episcopal Portuguesa. É membro da Cáritas Internationalis, da Cáritas Europa, da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, da Confederação Portuguesa do Voluntariado, da Plataforma Portuguesa das ONGD e do Fórum Não Governamental para a Inclusão Social.

Cáritas em Portugal

Contactos

Rua D. Francisco de Almeida, n 14
3030-382 Coimbra, Portugal

239 792 430 (Sede) – Chamada para rede fixa nacional

966 825 595 (Sede) – Chamada para rede móvel nacional

239 792 440 (Clínica) – Chamada para rede fixa nacional

 caritas@caritascoimbra.pt

NIF: 501 082 174

Feed

 

Comunicação Institucional