Padre António Sousa | Cáritas Diocesana de Coimbra expressa palavra de reconhecimento e gratidão
PADRE ANTÓNIO SOUSA
Cáritas Diocesana de Coimbra expressa palavra de reconhecimento e gratidão
No dia em que celebramos o Sétimo Dia do falecimento do Padre António Sousa, a Cáritas Diocesana de Coimbra presta uma palavra de reconhecimento público àquele que foi o seu grande impulsionador na origem, no sentido imprimido, na ação, e na direção dos seus destinos ao longo de mais de trinta anos.
Na origem, o jovem assistente religioso da então delegação diocesana da Cáritas Portuguesa cedo compreendeu que a eclesiologia do Vaticano II exigia que a Cáritas fosse uma organização de direito próprio da Igreja Particular de Coimbra, tendo aplicado todos os seus esforços no sentido da rápida instituição canónica e jurídica da Cáritas Diocesana de Coimbra, o que veio a acontecer em 1970, com estatutos aprovados ad experimentum, e em 1974 com estatutos definitivos.
No sentido imprimido, agregando à ação assistencial da Cáritas (única, e na base de donativos provindos do exterior), os dinamismos da promoção, do desenvolvimento, da transformação de estruturas e da renovação pastoral.
Cada um destes dinamismos refletiu-se em ações concretas. No campo da “promoção”, releva todo o trabalho feito durante décadas nas comunidades paroquiais, aos níveis da promoção comunitária, do apoio aos idosos, da alfabetização e educação de adultos, da formação de jovens para a liderança; e, depois, com crianças, com famílias. Ainda, com minorias étnicas, com doentes VIH/SIDA, com toxicodependentes, com grandes dependentes, com mulheres em situação de risco, em situação de prostituição e vítimas de violência doméstica, com sem-abrigo, com menores, jovens e crianças, desprovidos de meio familiar normal. Nas infraestruturas da formação para os agentes deste trabalho, criou camaratas para pernoita na antiga residência da Cáritas, salas de formação e um estúdio de produção de material audiovisual.
No campo do desenvolvimento, releva o projeto da criação do CEARTE – Centro de Formação Profissional do Artesanato – de gestão participada, criado em 1986 por protocolo entre o Instituto de Emprego e Formação Profissional e a Cáritas Diocesana de Coimbra. Releva ainda o trabalho desenvolvido a nível de alguns Bairros considerados socialmente mais problemáticos, nos concelhos de Coimbra e Figueira da Foz; a criação de empresas inserção; e a formação profissional, desde logo, longa, sistemática e intensamente do corpo de profissionais da própria Cáritas de Coimbra. Com justiça, muitos consideram também a própria massa de profissionais que a Cáritas foi sucessivamente agregando a si.
No campo da transformação das estruturas, releva-se a sua influência nas políticas sociais em Portugal, devendo-se em larga medida à sua persistente intervenção junto dos ministérios, enquanto presidente da Cáritas de Coimbra, mas também através das União das IPSSS, a implementação ou o alargamento de algumas respostas sociais concretas, nomeadamente no campo dos idosos, das crianças e de alguns problemas sociais graves, sendo a Cáritas de Coimbra, para muitas destas medidas, campo de experiências-piloto.
Na renovação pastoral, como lembrou o Senhor Bispo na homilia das suas Exéquias, o Padre António Sousa foi o grande promotor de uma nova visão da caridade, que, sem negar a livre iniciativa das pessoas, apelava à “caridade também organizada”, cujo sujeito primordial é a própria comunidade cristã, no âmbito diocesano e paroquial, para que a resposta à pobreza e aos problemas sociais graves seja eficaz e eficiente, pondo em prática a melhor teologia pastoral e antecipando a expressão doutrinal do magistério (sobretudo Bento XVI, na sua Encíclica Deus caritas est e depois no motu proprio Intima Ecclesiae Natura.
Enquanto Presidente da Cáritas Diocesana de Coimbra, o Padre Sousa sempre se orientou pelo princípio da “porta do gabinete aberta” para quem quisesse falar com ele. Revelou uma extraordinária capacidade de trabalhar com uma equipa nova, em idade e em espírito, o que também algumas vezes exigiu dele “correr atrás do prejuízo”, mas sem nunca desistir da confiança. Esforçou-se sempre por encontrar as respostas aos problemas concretos e para encontrar as pessoas a quem confiar essa resposta. Procurou ainda proporcionar as melhores condições de trabalho (a criação do edifício da Sede faz parte dessa exigência) e sempre um clima de alegria participativa entre todos os colaboradores.
Não sendo uma pessoa do mundo académico, nem do mundo político, nem das elites das grandes cidades, viu o Presidente da República, Jorge Sampaio, agraciá-lo com a Ordem do Mérito, no grau de Grande Oficial, no dia 8 de março de 2006, exatamente em virtude do mérito da sua ação na Cáritas Diocesana de Coimbra e, através dela, na sociedade e no país. Também o município de Coimbra o agraciou, no mesmo ano, a 4 de julho, com a Medalha de Ouro da Cidade.
Na hora da partida derradeira para as mãos do Pai, a Cáritas Diocesana de Coimbra presta sentida homenagem ao Padre António Sousa, expressa publicamente a sua profunda gratidão e confia à Eterna Misericórdia de Deus aquele que foi na Igreja de Coimbra, na segunda metade do séc. XX, a grande referência para a conscientização, compreensão e intervenção social e caritativa, em nome da mesma Igreja.