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10 de Outubro – XXVIII Domingo do Tempo Comum

2 Reis 5, 14-17; Sl 97; 2 Tim 2, 8-13; Lc 17, 11-19

É no caminho que ficamos limpos, não em casa!

            Indo Jesus a caminho de Jerusalém, passava entre a Samaria e a Galileia. Ao entrar numa povoação, vieram ao seu encontro dez leprosos. Conservando-se a distância, disseram em alta voz: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Ao vê-los, Jesus disse-lhes: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E sucedeu que no caminho ficaram limpos da lepra. Um deles, ao ver-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto em terra aos pés de Jesus para Lhe agradecer. Era um samaritano. Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?» E disse ao homem: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou». (Lucas)

É no caminho que ficamos limpos, não em casa!

            É do “milagre” da inclusão comunitária dos excluídos que Lucas nos fala! E do “milagre” como processo! E do “milagre” como acção de Deus!
            Lucas começa logo por nos dar o exemplo do próprio Jesus, colocando este milagre entre a Galileia e a Samaria, ambas terras de exclusão, embora por motivos diferentes. Jesus caminha para Jerusalém…, para a glória da Jerusalém celeste!, passando pela exclusão, experimentando a exclusão…, por entre a Samaria e a Galileia que a Jerusalém terrena despreza.
            Depois de nos dar o exemplo de Jesus, Lucas leva-nos a olhar para a comunidade. De facto, o número 10 é simbólico e representa basicamente a comunidade judaica crente. Era o número mínimo de homens que deviam estar presentes para se fazer o culto na sinagoga.
Ora a lepra, sendo uma doença real, também é simbólica, significando a exclusão, a expulsão da comunidade crente, exactamente o contrário do número 10. Falar de 10 leprosos é absurdo.
            E mais absurdo ainda colocar lá um samaritano! O samaritano representa os rejeitados por causa da impureza da sua fé. Para os judeus, todo o samaritano, em si mesmo, é como se fosse um leproso!: rejeitado, excluído, desprezado… Colocar na comunidade judaica (simbolizada pelo número 10) um samaritano, é outro absurdo!
            Lucas parece, assim, colocar sob o campo do absurdo a mais pura ordem judaica, exclusiva dos “incluídos”, dos “puros”, indicando que com Jesus estes absurdos caem por terra e em seu lugar aparece uma nova ordem cheia de um novo sentido (curada!): a comunidade, a nova comunidade do Reino de Deus, constrói-se com “nacionais” e “estrangeiros”, com “incluídos” e “excluídos”, com “sãos” e “doentes”, com “santos” e “pecadores”!
            Percebe-se, por estes absurdos, que Lucas está a dirigir um gigantesco ataque à comunidade judaica; mas, muito mais do que isso, está sobretudo a caracterizar o “caminho” da comunidade cristã à luz do “caminho” de Jesus: a comunidade cristã há-de chegar à glória de Deus (Jerusalém) aceitando caminhar por trilhos mais ou menos turbos, “entre a Samaria e a Galileia”, com leprosos e estrangeiros no meio dela… A comunidade cristã trilha estes caminhos, não para ficar neles, mas para curar todos os “leprosos” que procuram a sua cura – “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós” – e os enviar a mostrarem-se “aos sacerdotes”, para que estes testemunhem a sua cura e os integrem, os incluam… A comunidade cristã vive uma lógica diferente da comunidade judaica!
            Mas há no texto de Lucas uma incongruência: os leprosos deviam ir mostrar-se aos sacerdotes depois de curados! Jesus manda-os ainda leprosos! É só no caminho que eles se curam. No “caminho”! É no caminho, não em casa, que o “milagre” da nossa cura e da cura do mundo se dá! A santificação é um processo, não um dado adquirido magicamente por qualquer rito…
            Depois desta reflexão, Lucas faz perceber à comunidade cristã para quem escreve que ela própria foi salva por Jesus para esta nova lógica da inclusão. Muitos dos seus leitores seriam “samaritanos” e “leprosos”, no sentido de serem rejeitados pelo judaísmo de Jerusalém por serem, uns, judeus helenizados, outros, não-judeus. Forçando, e bem, a tecla do reconhecimento e da acção de graças, Lucas lembra a esta nova comunidade, à comunidade da lógica do Reino de Deus, que é a Jesus-Mestre que deve a sua “cura”. O Reino é sempre o reino de Jesus, nunca o reino da própria comunidade. A comunidade, a Igreja, jamais se pode confundir com o Reino de Deus; é apenas um fruto e um sinal do mesmo, e por isso, para os cristãos, o reconhecimento agradecido a Jesus Salvador antepõe-se a todas as coisas, a todas as práticas, a todos os méritos próprios, a todas as determinações religiosas… 
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